CONTRIBUTIONS This article counts 3688 words. Key words: Internationale Situationniste. Cidade moderna. Psicogeografia. |
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Algumas razões para o resgate do pensamento, da poesia e do ideário revolucionário Situacionistas. by Milton Esteves Junior Panfleto clandestino em Espanha, publicado em Boletim Internationale Situationniste n¼9, agosto de 1964 O humano é o único ser da Terra que trabalha e escraviza. Essa epígrafe, apócrifa e que não passa de uma colagem de informações e afirmações desta era multitudinária e multimediática, serve sob medida para apresentar uma característica básica deste discurso que por princípio abomina e repele a palavra e o conceito 'trabalho' em todas suas conotações adotadas na vida moderna e em suas relações de exclusividade com a seriedade. Portanto, este discurso se instala na categoria do jogo como contraposição dialética e complementária ao trabalho e como situação estratégia para sua superação. Um discurso sobre outro discurso, um jogo que se utiliza das regras de outro jogo, o que significa a prática do plágio e principalmente a intenção de repensar a história sob uma ótica referida admitindo voluntariamente um vínculo e uma conivência com a conduta e o ideário do referente: o discurso situacionista. "Situacionista: o que se relaciona com a atividade prática de uma construção de situações. O que se dedica a construir situações. Membro da Internacional Situacionista." 1 O discurso situacionista foi escolhido por sua visão crítica implacável e condenatória na identificação dos erros do passado e do seu presente. O transcurso posterior da história demonstrou que foi também profético ao definir e preconizar a total decomposição da cultura moderna à qual estava irremediavelmente ligado.
Analisar a cultura moderna através da ótica situacionista é uma atividade que transcende aos confortáveis exercícios de simples aproximação de discursos, é uma atitude que, tal como o referente, implica em parcialidade e exige simultaneidade no distanciamento da fórmula, no estabelecimento do formulário e na busca da formulação para poder fazer frente ao inimigo configurador e dominador da cultura.
Isto é um jogo que pretende ser uma interpretação do discurso da Internacional Situacionista, ou melhor, sua re-presentação (no sentido de torná-lo novamente presente), e está dedicado e dirigido aos que ainda acreditam na capacidade transformadora do pensamento revolucionário moderno para 'mudar a história'. Mas a prática da re-presentação do discurso ou do pensamento situacionista pressupõe o risco de cometer transgressões ideológicas recriminadas pelo referente (2). A mais condenável das transgressões seria a sua conversão em neologismo gratuito e doutrinário ou em linguagem fechada, o que acontece de modo vicioso e vulgar entre as elites inteligentes, os ativistas partidários, enfim em todos os grupos restritos adeptos de modismos militantes. Típico erro imperdoável para a crítica situacionista pois só serve para demonstrações de erudição e para manutenção de segredos e cumplicidades, ou seja para reforçar os processos de separação. Adotado dessa forma procederíamos aos indesejáveis revisionismos para imitar o pensamento situacionista, o que o reduziria à condição de situacionismo.
Este jogo, portanto, não aceita o situacionismo como regra e propõe a prática da reencarnação ö destituída de todo e qualquer significado mítico-religioso ö para materializar o espírito situacionista e poder parodiar e tergiversar todas as formas de separação e de restrições doutrinárias e dogmáticas. Mas o recurso da reencarnação não deve ser utilizado como um artifício para transformar o referente em alegoria mimética e sim para permitir a plenitude da capacidade da palavra como forma poética de estabelecer facilidades e reciprocidades na comunicação e na definição de acordos, para poder interpretar, entender e conseqüentemente atuar como a referência em suas situações construídas e na construções de novas situações.
Este jogo em forma de linguagem estabelece a re-presentação do pensamento situacionista reconhecendo-o simultaneamente como poesia, como um tipo especial de poesia: concreta, revolucionária. Essa simultaneidade representa um risco iminente quando se considera a poesia como uma instância irreproduzível e quando se reconhece que, tal como qualquer discurso, está sujeita às muitas armadilhas próprias da linguagem ö como a tradução através da qual, no sentido benjaminiano, a re-presentação converte qualquer original em uma 'obra nova' ö. Uma situação muito agravada pelos atuais avanços mediáticos e informáticos que possibilitam a automatização da escritura e da tradução que, além de substituirem a obra estão eliminando todas as nuancias próprias da linguagem e transformando os discursos em modelos. Um processo que somado à transformação da informação em comunicação e à uniformização planetária desta estão efetivando a revisão informática e ideológica da linguagem, e portanto sua reificação (3). Assim, retransmitir a tese, ou melhor a poesia situacionista não deixará de ser um exercício de leitura e reorganização das relações dialéticas entre a poesia e a revolução. Um caminho que não deve jamais repetir as velhas fórmulas revisionistas de conservação ou simples retransmissão da poesia que, sendo irreproduzível, ao ser citada deixa de ser poesia para tornar-se uma forma de tergiversação. "Tergiversação: Se emprega como abreviação da fórmula: tergiversação de elementos estéticos pré-fabricados. Integração de produções de arte, atuais ou passadas, em uma construção superior do meio. Nesse sentido não pode haver pintura ou música situacionistas, mas um uso situacionista desses meios. Em um sentido mais primitivo, a tergiversação no interior das antigas esferas culturais é um ato de propaganda que testemunha a usura e a perda de importância dessas esferas." (4) Este discurso portanto está tergiversando outro discurso e que, mesmo reconhecendo-se em sua simplicidade 'cientificista', em sua falta de compromisso com a cronologia e em sua limitações para utilização acadêmica, se negará a ser um simples exercício que contribua para a reconstrução das funções de conjunto do pensamento universitário já suficientemente sedimentado. Tergiversação: forma de transformação, de subversão e esta jamais reduzida e aceita como versão inferior ou alternativa e sempre interpretada no seu mais amplo sentido revolucionário. Admitido sem complexidade na abordagem historicista ou cronológica, pretende estimular a interação entre teoria e prática para não mistificar a primeira e nem permitir que a segunda esteja condicionada à repetição do receituário empírico e acrítico da realidade vigente. A principal regra deste jogo é o estímulo ao 'comportamento experimental' para permitir que teoria e prática sejam conjugadas sem que estejam isoladas no pedestal da intelectualidade e sim relacionadas de modo indissolúvel, fundidas como a 'teoria da prática', a única"·que contem a verdade de todos os conhecimentos pois é a única que possui o segredo do seu uso." (5). Este jogo pretende divulgar o argumento situacionista para dirimir o ineditismo onde este ocorra, assim não está dirigido aos profissionais especializados ou iniciados e sim aos eternos iniciantes das atividades anti-especializantes. Pretende sobretudo a superação de um modelo de sociedade que se encontra acomodada no papel de passiva espectadora e reprodutora dos artifícios espetaculares da especialização acadêmica e da triste e repetitiva realidade da vida cotidiana. Participar deste jogo pressupõe admitir que a história e a verdade sejam construções resultantes de articulações da linguagem e da capacidade criativa do homem, ou seja acreditar na capacidade de indução ideológica que se esconde por detrás de todos os discursos e de todos os meios de informação. Conseqüentemente, pressupõe subentender a cultura como um fenômeno que muda constantemente com as perdas e ganhos do conhecimento cuja compreensão está sujeita às adições e subtrações de sentidos tão características dos processos de retransmissão. Mas acima de tudo presume da linguagem em sua forma de poesia revolucionária considerando que a desejada e necessária revolução não pode estar baseada na recuperação da poesia literária e informacionista e muito menos em qualquer das clássicas e fracassadas práticas revolucionárias do passado. Portanto, não se trata de usar as palavras como declarações poéticas e sim para potencializar sua capacidade de transformação. Pragmaticamente este jogo considera o trinômio sociedade, arte e cidade como três instâncias imprescindíveis para a abordagem da cultura moderna e, tal como esta, já estavelmente estabelecidas. Sociedade, arte e cidade, conceitos justapostos cuja compreensão e interpretação deve priorizá-los como fenômenos inseparáveis e independentes dos restros estudos de casos particulares e isolados. Três instâncias nas quais o pensamento revolucionário situacionista encontrou a melhor plataforma para o desenvolvimento da crítica teórica e das estratégias de ação para alcançar as necessárias e desejáveis mudanças. Uma sociedade moderna já polarizada em dois extremos: por um lado uma minoria poderosa e dominadora e por outro uma maioria massificada e que, mesmo depois do grande passo oferecido pelo materialismo concreto (ou dialético, ou histórico), continua mística, individualista e dependente da pré-organização da vida cotidiana. Uma arte moderna já concebida como instrumentária da metamorfose da informação em comunicação, já configurada em sua ridícula função decorativa falsificada de razão para dar sentido à vida e, por fim, já apresentada, armazenada e comercializada como mercadoria à margem da sociedade e em pró daquela citada minoria. Uma cidade moderna já conformada como o meio preponderante da espacialização do poder e da polarização da sociedade moderna, onde esta habita mais ou menos confortavelmente para malgastar seus dias na Terra através de uma vida cotidiana enfadonha predeterminada por aquele. A cidade é o lugar exemplar de concentração da produção da história da modernidade, que sintetiza as manifestações da sociedade e da arte modernas e onde estas predominantemente se expressam e são expressadas. Em sua conformação moderna ö ou seja industrializada, planejada e controlada pelo trinômio Estado, Dinheiro e Trabalho ö e segundo os modelos metropolitanos, a cidade aqui deferida encontra-se no estágio que há muito já ultrapassou o seu caráter inicial de abrigo estabelecido pela dominação do homem sobre a natureza e passou a representar o ambiente preferencial do processo de dominação social, de manipulação da opinião e da conduta da coletividade. A massiva maioria dos habitantes da cidade moderna padece dos efeitos e demonstra as cicatrizes da predefinição da vida cotidiana contra a qual o discurso situacionista não cansou de combater. Concebida e agenciada como fiel promotora do espetáculo, da comodidade e da felicidade, a cidade é entendida como um fenômeno que está muito além da simples demarcação territorial de convivência ou supervivência social e da configuração geométrica e geográfica para ser analisada e interpretada sob a ótica da 'sitologia' e da psicogeografia. O jogo do psicogeógrafo transcende aos paradigmas do caráter formal e espacial e aos valores canônicos materiais e monumentais normalmente apresentados pela cidade, e através desta pretende compreender e estabelecer as relações psicofeográficas entre o indivíduo e o espaço comunitário. "Psicogeografia: Estudo dos efeitos do meio geográfico, ordenado conscientemente ou não, atuando diretamente sobre o comportamento afetivo dos indivíduos. "Psicogeógrafo: Que investiga e transmite as realidades psicogeográficas.
Antes de ser a resposta para algum tipo de enigma, ou o relato de sonhos ou de versos poéticos alheios ou remotos, este jogo pretende ser o documento de experiências lúdico-construtivas com a finalidade de expressar uma realidade presente a ser revivida através de um idealismo revolucionário. É uma atitude política que, longe de sua vulgar significação de 'relacionar o Estado à Arte de bem governar os povos' e sem limitar-se à visão aristotélica, genérica e silogística de homem como um animal naturalmente político, pretende abordar a relação transcendente, característica e específica do Homem com a sociedade e com a polis. Uma atitude que pleitea a análise crítica da prefiguração e organização da estética, dos sentimentos e do costumes da coletividade como caminho para a compreensão desta e de suas reações perante à vida cotidiana. Que aspira a utilização da técnica e da ciência para usufruto coletivo e generalizado. Que reivindica a utilização das artes para possibilitar a expressão e atuação com liberdade e atualidade inerentes às obras concebidas dentro dos critérios da 'criação aberta'. Que delega legitimidade e significação unicamente à produção da arte total como labor criativo da obra coletiva que não deriva em superficialidades de mistificação ou consagração da propriedade. Que reconhece somente a importância da produção fruto da criação de todos e simultaneamente de cada um desempenhada na totalidade da vida e de seu ambiente. Uma política que reclama prática na construção de situações com vistas à cultura contemporânea e à sociedade sem separações, que pressupõe o abandono da passividade dos espectadores da sociedade do espetáculo para a participação na construção do projeto central da Internacional Situacionista: o Urbanismo Unitário.
O discurso situacionista versou sobre uma história que condenava, da qual previu a total ruína e na qual estava totalmente inserido a ponto de haver sido condenado e arruinado por ela. O poder do inimigo e a passividade da massiva maioria dos participantes da sociedade do espetáculo o arrastaram à decomposição relegando-lhe um reduzido papel de 'poesia literária' e de 'utopia revolucionária'. Recuperar a história dessa poesia significa a busca da poesia da História, possível antídoto contra o vício de recuperação praticado pela arqueologia poética dos informacionistas do espetáculo responsáveis pela mumificação da cultura conservada como um objeto estanque em eterna exposição e para ser consumido e retransmitido como ordem. Significa a recusa ao uso da História como fórmula espetacular dos dirigentes e, ao contrário, o estímulo à sua adequação na vida cotidiana, à sua ampliação na história de cada vida individual e à realização na histórica luta pelos direitos de uma sociedade baseada na eqüidade. O objetivo é a definição de estratégias que derivem em atitudes e caminhos rumo a renovações. E mesmo que a capacidade poética do referente seja diminuída pela reprodução, este jogo pretende a recuperação de sua potencialidade experimental e revolucionária, defendendo o uso da palavra como comunicação direta, independentemente da rede de comunicação do poder, para poder desfrutar do seu poder de transformação. Executado como uma deriva no ideário crítico de um discurso virulento e presciente que declarou guerra à sociedade do espetáculo abrindo caminho para os acontecimentos de Maio de 68, que decretou e festejou a morte da arte moderna e que pretendia, através da desorientação, uma reorientação do mundo como em seu formulário para a cidade situacionista: apaixonante, fugitiva e sem rumo. ä deriva!
Este breviário pretende potencializar a poesia onde esta existe, colocando-a novamente em jogo para a necessária reorientação do mundo. Um mundo que já está muito comprometido com os erros da cultura fragmentada do passado, cujo presente se encontra mais efêmero e passageiro do que nunca e cujo futuro se apresenta cada vez mais indefinido, inseguro e difícil de ser vislumbrado. A reorientação do futuro deve permitir o nascimento de um novo sujeito inter-histórico, adepto do intersubjetivismo e promotor da inter-relação dos particularismos. Deve conduzir à superação dos valores condicionados às conveniências particulares e pessoais e à liquidação do sujeito egocentrico, seduzido pelo conforto da propriedade e pela domesticação da vida cotidiana que impedem a realização da personalidade, da °experimentação e do desejo. Deve garantir a recuperação do presente e dos verdadeiros valores do sujeito social que por definição já deve incluir o outro. Deve ser reorientado em direção à definitiva aniquilação do trabalho inutilizante e escravizador, do mito aterrorizador. Deve conduzir à superação da enorme carga psicológica e social estabelecida pelos paradigmas da permanência e da perenidade. Deve pressupor a construção de uma sociedade à margem desse modelo que insiste em promover os indesejáveis 'profissionais especializados em marginalização' que, ancorados na comunicação ideológica, aspiram a manutenção de suas atividades de pré-designação do futuro e da miscelânea espetacular dogmaticamente dependente da estética, devotamente entregue ao consumismo e cegamente seguidora das constantes variações das modas que eles ditam. O novo futuro deve curar-nos da ressaca provocada pelas tendenciosas e recém falecidas 'escolinhas estéticas', tanto a dogmática racional-funcionalista conjugada com a pretenciosa falácia do 'estilo internacional' (sistemas castradores para homologação de um receituário ineficiente pronunciado como o caminho da redenção) quanto a desvairada prostituição do ecletismo tautológico-revivalista cheio de anacronismos e mimetismos fantasiosos. Deve livrar-nos da descrença nos valores temporais de tais escolas que não podiam desembocar senão na grande colcha de retalhos ilógica, inacabada e confusa deste presente em que a principal presença é o passado preservado pela arqueologia museológica das recuperações e reconstruções de cadáveres reminescentes. Deve recuperar a importância crítica do projeto depois de haver sido afundado até o pescoço na comemoração do triunfo do capital e do consumo patrocinados pela era industrial. Deve liberar o Homem da escravidão ao trabalho e também da obrigatória absorção da excessiva produtividade que coisificou a sociedade, a arte e a cidade instalando-as no ilusório conforto e bem estar promovidos pela propaganda. Deve estabelecer novas saídas que impeçam a simples especulação filosófica, o pragmatismo raso, o tecnocentrismo unidimensional, o empirismo vicioso, e principalmente impedir a continuidade do processo de idiotismo que condena a maioria dos cidadãos. Deve instituir métodos pluralistas que não enalteçam a estética em detrimento da ética e principalmente que nos permitam encarar uma realidade política de forma descentralizada, uma realidade sociológica multicultural, intersubjetiva e livre de etnocentrismo, uma realidade demográfica e geográfica a nível internacional e não como resultado da demarcação física com um compasso político com a finalidade de sedimentar e segregar. Deve assimilar o gosto pelo desperdício, pelo plágio, pela fugacidade e pela vagabundagem ideológica além do destemor ao sofrimento, à morte e ao fim que vantajosamente herdamos das vanguardas antepassadas. Deve preparar-nos para novos modelos definitivamente desligados dos paradigmas das conclusões e engajar-nos à vida descomprometida e prazerosa, às experiências efêmeras e ao espírito comunitário. Deve portanto promover a revolução no seu sentido literal, exato, rigoroso e com todas suas conotações subjetivas, intencionais e ideológicas relacionadas ao abandono do conformismo e da passividade. Aplicar este jogo nas artes e sobretudo na cidade pressupõe a busca de mudanças e da organização coletiva de um ambiente unitário, o que corresponde a organizar coletivamente um ataque ao poder prefigurador da vida cotidiana que utiliza os habitantes das cidades modernas como seus 'clientes preferenciais' e como os principais espectadores desse triste espetáculo de progressiva auto-decomposição. Compartir esses desejos e opiniões levam a simpatizar com o comportamento marginal, efêmero, nômade e errático, uma situação que se encaixa sob medida aos objetivos e à estratégia do ideário sempre crítico e atento da Internacional Situacionista. ÁDate prisa, no me dejes pensar!, diz a provocante modelo fotográfico em outdoors de Barcelona, 1996, aos aficcionados da propaganda e do voyeurismo e aos potenciais turistas que superpovoam as cidades e que dependem do período de férias para alcançarem seu sonho de viajar e descansar do trabalho cuja realização jamais será conjugada na primeira pessoa do singular. Vemos que o espetáculo já perdeu a vergonha de explicitar-se como tal e que não necessita mais ser tergiversado. Já demonstra claramente seu principal objetivo: 'não deixar pensar'! Milton Esteves Junior NOTAS 1 Todas as citas deste trecho foram publicadas originalmente como Definições no Boletim Internationale Situationniste n¼1, Junho de 1958, pp13-4. A utilização das citas é contrária o ideário situacionista que as considera como uma autoridade teórica falsificada. Mas aqui é praticado pretensiosamente como uma 'recontextualização do plágio', um recurso necessário e implícito no progresso por permitir que o sentido das palavras participe de forma positiva para o melhoramento das idéias. Apesar da arriscada, a conjugação do plágio com a citação pode ser interessante desde que não esteja limitada como prática acadêmica doutrinante e sim como recurso de aproximação com o original para sua complementação, atualização e conseqüentemente sua distorção. Para Guy Debord, a distorção é um recurso positivo da linguagem para a prática revolucionária da anti-ideologia porque não pode ser comprovado, pois é uma pseudo-afirmação assumida na falta de garantias das verdades absolutas e eternas e nessa qualidade poder estabelecer novas referências de "verdade como crítica presente". O desvio carrega em si a derivação de toda verdade estabelecida com o fim de perturbar toda a ordem existente para implicar a existência teórica com a ação e a correção histórica. 2 É imprescindível determinar a conotação do termo ideologia aqui utilizado na sua forma positiva, como conjunto de idéias que objetivam a plenitude da vida histórica, o que difere muito do seu significado predominante no pensamento dogmático e na prática totalitária da sociedade de classes que pretende sua materialização para a conseqüente abstração e universalização da realidade e através dela (a ideologia) bloquear o acesso à vida histórica. 3 Ideologia neste caso está sendo utilizada em seu desagradável significado de 'consciência deformada da realidade e agente de deformação'. Reificação como a coisificação da realidade objetiva. Duas situações muito características dos desprezíveis processos de alienação. 4 O vocábulo tergiversação em Português está restrito ao significado de rodeio, evasiva ou desvio por um caminho indireto . Está sendo aqui utilizado para traduzir o termo 'détournement' que no original em Francês além desse significado de mudança de direção, de desvio para um outro centro de interesse pode ser interpretado também como dissuasão, malversação, apropriação fraudulenta, corrupção, seqüestro, rapto e outros significados figurados. Assim, esta tradução não deixará de ser uma forma de tergiversação considerada na amplitude de suas conotações contidas no original. 5 Guy Debord (membro imprescindível para a fundação e a existência da Internacional Situacionista) em A Sociedade do Espectáculo (obra capital para a definição do ideário situacionista e segundo maior golpe dirigido contra a sociedade burguesa do capital). |